Etapa estreante na Fórmula 1 neste fim de semana, o GP da Arábia Saudita gera polêmica pela suspeita do uso do esporte para limpar a imagem do país, acusado de transgredir os direitos humanos. Na coletiva da etapa nesta quinta-feira, Lewis Hamilton reconheceu não se sentir confortável na etapa pela questão, e reforçou sua visão sobre o dever do esporte para a defesa da pluralidade e liberdade.
Hamilton também usará capacete com bandeira LGBTQIA+ na Arábia Saudita
- Não posso fingir que tenho mais conhecimento do que alguém que cresceu nessa comunidade e é fortemente afetada por certas regras e o regime. Eu me sinto confortável aqui? Eu não diria que me sinto, mas não é escolha minha estar aqui. O esporte escolheu isso. E se é certo ou errado, acredito que enquanto estivermos aqui, é importante promover conscientização - comentou o britânico.
A Arábia Saudita é um dos países a criminalizar a homossexualidade, além de adotar medidas restritivas às mulheres, proibidas de interagir com homens, e de casar-se, divorciar-se, abrir empreendimentos, viajar, deixar a cadeia ou abrigos sem a autorização de um tutor masculino.
GP da Arábia Saudita terá 1ª piloto mulher do país como embaixadora
Em 2018, o país começou um processo de flexibilização, permitindo que a população feminina dirija ou frequente estádios, por exemplo. Mesmo assim, o governo saudita ainda é acusado de prender ou executar opositores, suspeito pelo homicídio do jornalista Jamal Khashoggi no mesmo ano.
Rafael Lopes e Luciano Burti comentam expectativa para GP da Arábia Saudita
Apesar das mudanças, no fim de 2019, a agência estatal de segurança do país classificou o feminismo, a homossexualidade e o ateísmo como atos "inaceitáveis" de extremismo. Em março deste ano, a ativista Loujain al-Hathloul, uma das manifestantes pelo direito das mulheres de dirigir, foi liberta da prisão após três anos de encarceramento.
Hamilton pede escrutínio no Catar e Arábia Saudita contra violações dos direitos humanos
O risco da F1 ser utilizada pela Arábia Saudita para o chamado "sportwashing" ou lavagem esportiva, que se refere ao uso do esporte para limpar a imagem do país, chegou a ser destacado pela Anistia Internacional, órgão global de proteção aos direitos humanos.
- Algumas das mulheres aqui ainda estão na prisão por muitos e muitos anos porque dirigiram um carro. Há muitas mudanças que precisam acontecer e nosso esporte precisa fazer mais - cobrou Hamilton.
O heptacampeão tem sido vocal não apenas sobre o movimento antirracista, sua principal causa na F1, mas ao lado de Sebastian Vettel vem se posicionando a favor da comunidade LGBTQIA+, protestando com o tetracampeão no GP da Hungria deste ano.
Hamilton vê luta por diversidade como motivação na F1: "Tenho uma missão"
Hamilton confirmou que usará em Jeddah e Abu Dhabi o capacete com a bandeira atualizada do movimento LGBTQIA+. O modelo foi feito pelo brasileiro Raí Caldato, que já trabalha há anos com o britânico, utilizando a arte de Daniel Quasar, artista não-binário que ressalta a representatividade de pessoas trans, negras e racializadas na comunidade.
- Você viu o capacete que eu usei na última corrida. Vou usá-lo de novo aqui, e na próxima corrida (em Abu Dhabi), porque isso é um problema. Há mudanças que precisam ser feitas. Temos o dever de ajudar a aumentar a conscientização para questões relacionadas aos direitos humanos nesses países em que vamos - reforçou o piloto da Mercedes.