Goytacaz ganha filme sobre luta da torcida para salvar o Aryzão e o clube

A narrativa é construída a partir de entrevistas com dirigentes, torcedores, autoridades e especialistas

Futebol 22 de agosto de 2025 às 20h39
Granger Ferreira / GFEsportes.com.br

Um dos momentos mais delicados dos 113 anos de história do Goytacaz Futebol Clube ganhou registro em forma de documentário. Produzido de forma totalmente independente pelo jornalista e torcedor Léo Puglia, o filme acompanha a mobilização popular que impediu a venda e o fechamento definitivo do estádio Ary de Oliveira e Souza, o Aryzão, em Campos.

A obra mostra como, em 2024, após a antiga diretoria do clube anunciar o encerramento das atividades e a intenção de vender o estádio, torcedores se organizaram e chegaram a colocar suas vidas em risco e, em poucos meses, conseguiram vitórias importantes. Entre elas, a aprovação de leis na Câmara de Vereadores, o tombamento do estádio pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (COPPAM) e a reabertura do clube.

Produção independente e cineclube
O documentário é a primeira produção do Cineclube Marighella, projeto de cine-debate fundado em 2016 que já realizou mais de 40 sessões gratuitas em diferentes cidades. A realização não contou com recursos públicos, editais ou patrocínios de empresas. A produção foi feita em parceria com o próprio clube e a Agência Martelo Marketing.

Segundo Léo Puglia, o filme nasceu “ao contrário do processo convencional”. Enquanto trabalhava em outro documentário sobre o time bicampeão fluminense dos anos 1960 — projeto temporariamente interrompido —, ele foi surpreendido pelos acontecimentos recentes e decidiu registrar a luta dos torcedores:

“Eu gostaria que esse filme não existisse, porque isso significaria que o Goytacaz nunca teria sido fechado. Mas a torcida abraçou o estádio, enfrentou ameaças e conseguiu reabrir o clube em tempo recorde. Achei que essa história precisava ser documentada para as próximas gerações”, contou.

Personagens e depoimentos
A narrativa é construída a partir de entrevistas com dirigentes, torcedores, autoridades e especialistas. Entre os personagens estão o presidente do Goytacaz, Sérgio Alves, o secretário do COPPAM, João Pimentel, o ex-vereador Rafael Tuim — autor da lei que tornou a área do estádio não edificante — e a historiadora Rafaela Machado, que analisa o significado cultural do clube para a cidade.

O filme também reúne depoimentos de torcedores e dirigentes do rival Americano, mostrando o contraste de destinos entre os clubes campistas. Além disso, Puglia buscou olhares externos: entrevistou, no Rio de Janeiro, representantes da FENG, empresa multinacional que administra programas de sócio-torcedor de grandes clubes, e o diretor de marketing da Sporting Bet, que falou sobre perspectivas de patrocínio e mercado para o futuro do Goytacaz.

Da luta ao futuro
Mais do que registrar a resistência, o documentário também aponta para os desafios adiante. Ele aborda a reconstrução do Aryzão, a retomada das categorias de base e a busca por novos modelos de gestão e financiamento para garantir a sustentabilidade do clube no futebol do interior do Rio de Janeiro.

“O filme emociona porque não é apenas uma produção audiovisual. Ele nasceu da própria luta, eu vivi aquilo como torcedor e depois como cineasta. Chorei várias vezes durante a edição das duas horas de material”, afirmou Puglia.

Lançamento
O documentário foi inscrito no Festival Internacional Goitacá de Cinema, na categoria Olhares da Planície, dedicada a produções feitas no interior do estado, mas não foi selecionado. Ainda assim, o lançamento do trailer no aniversário do clube despertou interesse de distribuidoras.

A equipe negocia a estreia em circuito comercial em Campos, além de exibições gratuitas em espaços culturais, como o Museu Histórico da cidade e festivais locais. Em uma segunda etapa, o filme também deve ser disponibilizado na internet.

Fonte: MARIA LAURA GOMES - Folha da Manhã
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